quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Para iniciar a conversa...


Foto: arquivo da família

Maria Ângela da Costa Cruz Alvim nasceu no dia 1º de janeiro de 1926, na fazenda de Pouso Alegre, município de Volta Grande, Zona da Mata, Minas Gerais. Filha de Fausto Figueira Soares Alvim e de Mercedes Costa Cruz Alvim, teve quatro irmãos: Maurício da Costa Cruz Alvim, Maria Lúcia Alvim, Francisco Soares Alvim Neto e Fausto Alvim Júnior, este último, já falecido.
Segundo a família, desde cedo mostra-se interessada por artes (tocava violão, fazia uma ou outra gravura, esboçava os primeiros versos) e pelo social, atividades que serão aprofundadas por Maria Ângela Alvim na juventude, na curta carreira como Assistente Social e na produção literária intensa, haja vista a idade em que morreu.
Seu primeiro trabalho literário, Superfície, foi publicado ainda em vida, aos 24 anos de idade, em Belo Horizonte, pela editora João Calazans, e data de 1951.
De produção intensa, Maria Ângela Alvim encaminhou a publicação de seu segundo livro, Barca do Tempo, em edição artesanal. O trabalho de escrita e encadernação foi, segundo relatos da família, realizado por freiras beneditinas de Belo Horizonte/MG, a pedido da própria poeta. Segundo o irmão, Francisco Alvim, Maria Ângela Alvim tinha muito cuidado e zelo com este material, que passava de mão em mão entre familiares e amigos, os quais o elogiam pela qualidade visual e literária, deixando a poeta orgulhosa.
Postumamente, foram publicadas outras três edições de Poemas, aqui no Brasil, todas com o mesmo conteúdo e seqüenciação de textos (Superfície, Barca do tempo, Outros poemas, Poemas de Agosto e Carta a um cortador de linho). O que difere entre uma e outra é que, ao contrário das edições Fontana (1980) e Unicamp (1993), a edição do Departamento de Imprensa Nacional (1962) não tem fac-símile de cartas da poeta enviadas à família quando de sua primeira viagem a Europa, além de algumas fotos de Maria Ângela Alvim (na infância e juventude, local de nascimento e óbito, entre outras), além disso, a primeira edição de Superfície traz duas gravuras ilustrando dois poemas do livro.
As edições publicadas no exterior aconteceram de modo muito particular. A edição francesa, Poèmes d’août – anthologie poétique, primeira publicação de Maria Ângela Alvim no exterior, deu-se a partir de Monique Attle, amiga de adolescência de Maria Lúcia Alvim, quando moravam no Rio de Janeiro. Da relação fraternal construída entre as duas e da ligação que  Monique   Attle   manteve  com  a  família  Alvim,  nasceu  a  preocupação  de  Attle  em apresentar, quarenta anos depois, na França, os poemas de Maria Ângela Alvim para os Max de  Carvalho,  de  ascendência brasileira,  mostra  profundo  interesse  pela produção de Maria
Ângela Alvim. Esse interesse pela obra da poeta culminou na publicação francesa pela Éditions Arfuyen.
Posteriormente, num trabalho de tradução da obra do poeta português Herberto Hélder, um dos principais nomes da poesia contemporânea portuguesa, para o francês, realizado por Max de Carvalho, este apresenta a obra de Maria Ângela Alvim para Herberto Hélder que de igual modo ao editor demonstra muito interesse pelos escritos da poeta.
Atraído e envolvido pela poesia de Maria Ângela Alvim, Herberto Hélder escreve para família da poeta – especificamente para Maria Lúcia Alvim. Na carta, o poeta português faz alguns comentários sobre a qualidade textual da obra de Maria Ângela Alvim e a importância que dá a ela, conforme pode ser observado no fragmento abaixo extraído da carta: A poesia de sua irmã foi para mim uma revelação, e gostaria muito que o maior número possível de pessoas partilhasse do ganho espiritual que obtive com a leitura dela.

Após este contato, a família de Maria Ângela Alvim autorizou a publicação da obra dela em Portugal. Superfície – toda poesia, título luso, publicada pela editora Assírio & Alvim, em 2002. Apesar do mesmo sobrenome, segundo Francisco Alvim, a Editora não tem nenhuma ligação com a família. Apenas coincidência de nomes.
Dentre os teóricos que fizeram menção à produção de Maria Ângela Alvim, temos na filóloga e professora de literatura brasileira na Itália, Luciana Stegagno-Picchio, o principal nome.
Mesmo com um comentário breve, Luciana S. Picchio declara ver em Maria Ângela Alvim um dos nomes que “...poderão, talvez um dia, inserir-se nas malhas do discurso proposto com tamanha autoridade para alterar-lhe a estrutura...”.
Mais recentemente, André Seffrin, crítico e ensaísta, organizou e prefaciou a obra Roteiro da poesia brasileira – anos 50, pela Editora Global, e inseriu três poemas de Maria Ângela Alvim, sendo: Cassandra (Poemas), De tudo me afastei, por não querença (Ibidem) e Inteira me deixo aqui, (Ibidem). A obra foi lançada no final de 2007.
De forma bem sucinta, temos registrado nessas linhas, os caminhos pelos quais entramos em contato com a obra de Maria Ângela Alvim. Como pode ser observado, uma obra ainda pouco difundida e conhecida do público em geral (pesquisadores, estudantes de Letras, apreciadores de poesia), mas, ao mesmo tempo, de um vigor e substância tal que impressiona alguns dos mais habilidosos fazedores poéticos do Brasil e do exterior, bem como críticos, apreciadores e amantes de poesia. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, antevemos um belo futuro. Ou não será preciso esperar tanto?

2 comentários:

  1. Quando eu comprei um livro sob o titulo "Poemas" da autora Maria Ângela Alvim, não imaginava a riqueza que ali escondia em seus versos caprichosos de Poetisa excepcional. Eu amei seu livro, li e reli muitas vezes e divulguei também entre meus amigos. Eu a vejo como a "Cecília Meireles" de Minas! Mas só uma pena eu sinto, não tê-la conhecido, seria uma Honra muito grande conhecer mais uma das Pérolas da Poesia Brasileira. De onde ela estiver, agora, tenho certeza, está no lugar especial: No Jardim dos Poetas, recitando pra Deus versos e mais versos, para que Ele - Nosso Pai Criador - não fique muito entediado! Parabéns Imortal Poetisa!

    E de todas as poesias dela, eu gosto muito dessa aqui:

    Infância

    Infância é idade
    Em espaço – tempo
    Que a alma intempória
    Retorna e sente.
    Infância é terra
    Feita harmonia,
    Na euforia
    Do inconsciente
    Como no antanho
    Em que existimos
    Em cor e aroma,
    Em gosto agreste,
    Em tato liso
    Direto ao seio
    Destas origens,

    Em acalanto da natureza.

    ... E somos cegos por lucidez
    E exilados são nossos olhos,
    Tão bem nascidos para morrer.

    Maria Ângela Alvim IN: “Poemas”
    “Outros Poemas” – Página 112.
    Editora Fontana (1° Edição 1962)

    P.S: Tenho esse seu livro até hoje, enfeitando minha cabeceira! Obrigado: Victor Hugo.

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    1. Devo concordar com você, Victor Hugo e convidá-lo a ler outros trabalho de e sobre Maria Ângela Alvim aqui neste espaço. Sucesso.

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