Foto: arquivo da família
Maria Ângela da Costa Cruz Alvim nasceu no dia 1º de janeiro de 1926, na
fazenda de Pouso Alegre, município de Volta Grande, Zona da Mata, Minas Gerais.
Filha de Fausto Figueira Soares Alvim e de Mercedes Costa Cruz Alvim, teve
quatro irmãos: Maurício da Costa Cruz Alvim, Maria Lúcia Alvim, Francisco
Soares Alvim Neto e Fausto Alvim Júnior, este último, já falecido.
Segundo a família, desde cedo mostra-se interessada por artes (tocava
violão, fazia uma ou outra gravura, esboçava os primeiros versos) e pelo
social, atividades que serão aprofundadas por Maria Ângela Alvim na juventude,
na curta carreira como Assistente Social e na produção literária intensa, haja vista
a idade em que morreu.
Seu primeiro trabalho literário, Superfície,
foi publicado ainda em vida, aos 24 anos de idade, em Belo Horizonte ,
pela editora João Calazans, e data de 1951.
De produção intensa, Maria Ângela Alvim encaminhou a publicação de seu
segundo livro, Barca do Tempo, em
edição artesanal. O trabalho de escrita e encadernação foi, segundo relatos da
família, realizado por freiras beneditinas de Belo Horizonte/MG, a pedido da
própria poeta. Segundo o irmão, Francisco Alvim, Maria Ângela Alvim tinha muito
cuidado e zelo com este material, que passava de mão em mão entre familiares e
amigos, os quais o elogiam pela qualidade visual e literária, deixando a poeta
orgulhosa.
Postumamente, foram publicadas outras três edições de Poemas, aqui no Brasil, todas com o
mesmo conteúdo e seqüenciação de textos (Superfície,
Barca do tempo, Outros poemas, Poemas de Agosto e Carta a um cortador de linho).
O que difere entre uma e outra é que, ao contrário das edições Fontana (1980) e
Unicamp (1993), a edição do Departamento de Imprensa Nacional (1962) não tem
fac-símile de cartas da poeta enviadas à família quando de sua primeira viagem
a Europa, além de algumas fotos de Maria Ângela Alvim (na infância e juventude,
local de nascimento e óbito, entre outras), além disso, a primeira edição de Superfície traz duas gravuras ilustrando
dois poemas do livro.
As edições
publicadas no exterior aconteceram de modo muito particular. A edição francesa,
Poèmes d’août – anthologie poétique, primeira
publicação de Maria Ângela Alvim no exterior, deu-se a partir de Monique Attle,
amiga de adolescência de Maria Lúcia Alvim, quando moravam no Rio de Janeiro.
Da relação fraternal construída entre as duas e da ligação que Monique
Attle manteve com
a família Alvim,
nasceu a preocupação
de Attle em apresentar, quarenta anos depois, na
França, os poemas de Maria Ângela Alvim para os Max de Carvalho,
de ascendência brasileira, mostra
profundo interesse pela produção de Maria
Ângela Alvim.
Esse interesse pela obra da poeta culminou na publicação francesa pela Éditions
Arfuyen.
Posteriormente, num trabalho de tradução da obra do poeta português
Herberto Hélder, um dos principais nomes da poesia contemporânea portuguesa,
para o francês, realizado por Max de Carvalho, este apresenta a obra de Maria
Ângela Alvim para Herberto Hélder que de igual modo ao editor demonstra muito
interesse pelos escritos da poeta.
Atraído e envolvido pela poesia de Maria Ângela Alvim, Herberto Hélder
escreve para família da poeta – especificamente para Maria Lúcia Alvim. Na
carta, o poeta português faz alguns comentários sobre a qualidade textual da
obra de Maria Ângela Alvim e a importância que dá a ela, conforme pode ser
observado no fragmento abaixo extraído da carta: A poesia de sua irmã foi para mim uma revelação, e gostaria muito que o
maior número possível de pessoas partilhasse do ganho espiritual que obtive com
a leitura dela.
Após este contato, a família de Maria Ângela Alvim autorizou a publicação
da obra dela em
Portugal. Superfície – toda poesia, título luso, publicada
pela editora Assírio & Alvim, em 2002. Apesar do mesmo sobrenome, segundo
Francisco Alvim, a Editora não tem nenhuma ligação com a família. Apenas
coincidência de nomes.
Dentre os teóricos que fizeram menção à produção de Maria Ângela Alvim,
temos na filóloga e professora de literatura brasileira na Itália, Luciana
Stegagno-Picchio, o principal nome.
Mesmo com um comentário breve, Luciana S. Picchio declara ver em Maria Ângela Alvim
um dos nomes que “...poderão, talvez um dia, inserir-se nas malhas do discurso
proposto com tamanha autoridade para alterar-lhe a estrutura...”.
Mais recentemente, André Seffrin, crítico e ensaísta, organizou e
prefaciou a obra Roteiro da poesia
brasileira – anos 50, pela Editora Global, e inseriu três poemas de Maria
Ângela Alvim, sendo: Cassandra (Poemas),
De tudo me afastei, por não querença (Ibidem) e Inteira me deixo aqui, (Ibidem). A obra foi lançada no final de
2007.
De forma bem sucinta, temos registrado nessas linhas, os caminhos pelos
quais entramos em contato com a obra de Maria Ângela Alvim. Como pode ser
observado, uma obra ainda pouco difundida e conhecida do público em geral
(pesquisadores, estudantes de Letras, apreciadores de poesia), mas, ao mesmo
tempo, de um vigor e substância tal que impressiona alguns dos mais habilidosos
fazedores poéticos do Brasil e do exterior, bem como críticos, apreciadores e
amantes de poesia. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, antevemos um belo
futuro. Ou não será preciso esperar tanto?
Quando eu comprei um livro sob o titulo "Poemas" da autora Maria Ângela Alvim, não imaginava a riqueza que ali escondia em seus versos caprichosos de Poetisa excepcional. Eu amei seu livro, li e reli muitas vezes e divulguei também entre meus amigos. Eu a vejo como a "Cecília Meireles" de Minas! Mas só uma pena eu sinto, não tê-la conhecido, seria uma Honra muito grande conhecer mais uma das Pérolas da Poesia Brasileira. De onde ela estiver, agora, tenho certeza, está no lugar especial: No Jardim dos Poetas, recitando pra Deus versos e mais versos, para que Ele - Nosso Pai Criador - não fique muito entediado! Parabéns Imortal Poetisa!
ResponderExcluirE de todas as poesias dela, eu gosto muito dessa aqui:
Infância
Infância é idade
Em espaço – tempo
Que a alma intempória
Retorna e sente.
Infância é terra
Feita harmonia,
Na euforia
Do inconsciente
Como no antanho
Em que existimos
Em cor e aroma,
Em gosto agreste,
Em tato liso
Direto ao seio
Destas origens,
Em acalanto da natureza.
... E somos cegos por lucidez
E exilados são nossos olhos,
Tão bem nascidos para morrer.
Maria Ângela Alvim IN: “Poemas”
“Outros Poemas” – Página 112.
Editora Fontana (1° Edição 1962)
P.S: Tenho esse seu livro até hoje, enfeitando minha cabeceira! Obrigado: Victor Hugo.
Devo concordar com você, Victor Hugo e convidá-lo a ler outros trabalho de e sobre Maria Ângela Alvim aqui neste espaço. Sucesso.
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